|
|
Osteoporose ameaça ossos e altera qualidade de vida |
|
Foto Divulgação |
Ossos porosos, frágeis e suscetíveis a fraturas causadas por traumatismos mínimos. Esta é a osteoporose, uma doença grave que se caracteriza pela perda progressiva da massa óssea, que enfraquece o esqueleto. Com índices de ocorrência cada vez maiores em todo o mundo, a osteoporose ainda é pouco conhecida pela maioria da população, sobretudo pelas mulheres, vítimas prediletas do problema. Em todo o mundo, 150 milhões de pessoas têm a doença. No Brasil, não há estatísticas. Entretanto, as estimativas apontam que 7 milhões de brasileiros têm a doença. Como a osteoporose atinge principalmente as mulheres na pós-menopausa, os especialistas do País estão alarmados: há 20 milhões de brasileiras com mais de 55 anos. Uma em cada três será acometida pela doença.
Perda Silenciosa
Considerada uma questão de saúde pública, a doença é difícil de ser enfrentada precocemente, já que se instala de forma silenciosa. Não há sintomas que revelem o enfraquecimento do esqueleto. Muitas mulheres só descobrem o problema depois de fraturar um osso. Anualmente nos Estados Unidos, a osteoporose causa 1,5 milhão de fraturas, o que exigiu, em 2000, gastos de US$ 16 bilhões. Cerca de 30 milhões de norte-americanos têm a doença. "A mulher deve ficar atenta ao histórico familiar e a outros fatores de risco. Se há outros casos de fratura ou osteoporose na família, a mulher precisa prestar atenção", recomenda o reumatologista Sebastião Radominski, professor da Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Menopausa: Fator de Risco
Mulheres com mais de 40 anos que sofrem alguma fratura nesta faixa etária, geralmente são magras - o que caracteriza uma constituição óssea menor - ou tiveram menopausa precoce. Outros fatores de risco são: ser branca, manter estilo de vida sedentário e ter uma dieta pobre em cálcio.
A maior ameaça da doença é a fratura, que interfere na qualidade de vida. Em muitos casos, a quebra de um osso dificulta movimentos, prejudica a respiração e a auto-estima da paciente. A fratura de quadril, por exemplo, costuma ser incapacitante, exigindo a implante de prótese ou de parafuso. Cerca de 20% das mulheres submetidas à cirurgia necessária para corrigir o problema morrem após um ano em razão de complicações. Das que sobrevivem, 50% ficam com algum tipo de dependência, exigindo cuidados especiais.
Fraturas
O maior desafio é evitar a primeira fratura. Como a doença enfraquece os ossos, não é preciso sofrer grandes impactos para que ela aconteça. Qualquer traumatismo, mesmo que mínimo, pode causar a fratura. As mais comuns são as da coluna vertebral, do fêmur e dos antebraços. Muitas trazem consequências sérias para a qualidade de vida. A fase da menopausa é um período crítico para o desenvolvimento da osteoporose. Nesta fase, a ovulação cessa e diminui a produção do hormônio estrógeno. O hormônio é um fator de proteção, já que ajuda a manter o cálcio "preso" ao osso.
Mais da metade das fraturas vertebrais não recebem cuidados médicos. São fraturas silenciosas, muitas vezes confundidas com luxações musculares ou artrite. Após a primeira fratura, as mulheres podem ter fraturas adicionais, o que sugere que a osteoporose pode ser uma doença de rápida progressão. O acúmulo de fraturas vertebrais sem tratamento pode causar dor e até perda de altura.
Diagnóstico
O desafio apontado pelos especialistas que acompanham a evolução do problema é a falta de diagnóstico correto em muitos casos. Dados do Ministério da Saúde revelam que 1/3 dos pacientes tem a doença identificada. Destes, apenas 20% fazem o tratamento. "A mulher deve procurar o médico todas as vezes que identificar fatores de risco e, sobretudo, quando a identificação tiver sido feita depois que ela entrou na menopausa", orienta Radominski. Diagnosticar a doença precocemente aumenta as possibilidades de tratamento.
O exame que identifica a doença é a densitometria óssea. A intenção dos especialistas é que o teste se torne uma rotina a partir dos 50 anos, como já ocorre com a mamografia e o exame de prevenção do câncer. "Em alguns estados, o Sistema Único de Saúde (SUS) cobre os gastos com a densitometria. Em outros, isto ainda não ocorre", explica o reumatologista. O raio X é útil para a identificação da fratura, mas não é eficiente para o diagnóstico precoce da doença. Se há fatores de risco, é adequado fazer a densitometria anualmente a partir da menopausa.
O exame é indispensável a partir dos 65 anos, quando os riscos de fratura são bem maiores. A densitometria pode revelar que não houve perda na massa óssea (casos normais), que ocorreram perdas dentro do padrão ósseo, em relação à mulher jovem (osteopenia, uma fase intermediária) ou perdas ósseas que configuram a doença estabelecida. Atualmente, o especialista que realiza o maior número de diagnósticos do problema é o ginecologista. No entanto, os casos de osteoporose também podem ser acompanhados por reumatologistas, generalistas, traumatologistas e ortopedistas, por exemplo.
Homens
Apesar de preferir a população feminina, a osteoporose também pode atingir os homens. Normalmente, o desenvolvimento da doença é influenciado por fatores como o alcoolismo, a idade e o uso crônico de corticóides, empregados no tratamento de doenças reumáticas, asma brônquica e alergias. Dados norte-americanos apontam que 2 milhões de homens têm a doença naquele país. Anualmente, os doentes são vítimas de 80 mil fraturas de fêmur. Cerca de 36% dos pacientes morrem em decorrência de complicações após a primeira fratura. Entre a população masculina, a doença costuma aparecer a partir dos 65 anos. Entretanto, uma boa formação óssea, dieta rica em cálcio, atividade física e exposição adequada ao sol são fatores importantes para evitar a osteoporose.
Prevenção e Tratamento
A osteoporose pode ser prevenida e tratada. A dieta rica em cálcio é fundamental, tanto para quem desenvolveu o problema quanto para quem quer preveni-lo. A mulher necessita de 1.200 miligramas de cálcio diários. Os derivados do leite e alguns outros alimentos são fonte da substância. Um copo de leite tem 300 miligramas, um copo de iogurte tem cerca de 400 miligramas e uma fatia grande de queijo tem 200. Brócolis, espinafre, couve e peixe são outros alimentos que devem ser consumidos. A produção de vitamina D, obtida através da exposição solar de 30 minutos diários, é outro ponto importante, além da atividade física regular que contribui para a saúde óssea. Exercícios com peso, caminhada e natação são boas opções. A prevenção deve começar ainda na infância.
A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) pode ser indicada por alguns médicos para a prevenção, em alguns casos, e também para o tratamento. No entanto, a terapia ainda provoca polêmica no meio médico, já que o uso do hormônio aumenta os riscos de desenvolvimento do câncer de mama e de endométrio. "É necessário avaliar o quadro da paciente e se ela tem fatores de risco para o câncer, como por exemplo nódulos na mama. O estrogênio usado na TRH é proliferativo, o que facilita o crescimento do tumor", esclarece Radominski.
Quando a TRH não é indicada, o tratamento é feito com os medicamentos alendronato de sódio, risedronato de sódio, raloxifeno e calcitoninas, aprovados também na prevenção da doença. A escolha do melhor tratamento, no entanto, exige sempre o acompanhamento médico.
Cuidados
Além do tratamento médico, o paciente com osteoporose pode adotar medidas simples para prevenir as fraturas, como usar sapatos com sola de borracha, evitar tapetes, prestar atenção aos degraus e se apoiar em corrimãos, usar iluminação adequada em banheiros e manter pisos antiderrapantes no banheiro e no box. Todo cuidado é pouco depois de ingerir medicamentos que causam tonturas.
Polêmicas
Recentemente, os médicos brasileiros estiveram reunidos para discutir os pontos polêmicos que envolvem o diagnóstico e tratamento da osteoporose. Os profissionais estão elaborando um consenso, para eliminar a disparidade de opiniões entre os médicos. O objetivo do debate também é preparar o médico, mesmo o clínico geral, para fazer o primeiro atendimento, bem como reconhecer as alterações e adotar o tratamento mais indicado. "O Consenso vai uniformizar as condutas médicas. Vamos definir o momento de iniciar o tratamento, sua duração e a frequência dos exames. O resultado será divulgado para órgãos públicos, médicos e no Programa de Saúde da Família", adianta Radominski. Uma cartilha está sendo desenvolvida para conscientizar médicos e pacientes sobre o assunto. |
| |
|
|
|
|